DE SARAJEVO - Sarajevo acorda envolta em névoa, essa mortalha úmida que parece proteger as cicatrizes da cidade. No cemitério de Kovači, onde as lápides brancas se alinham como um exército silencioso, busco o túmulo de mármore verde. Ali repousa Alija Izetbegović, jurista, poeta e comandante involuntário, cuja vida é um espelho partido refletindo os paradoxos dos Bálcãs. O ar cheira a café turco e terra lavada pela chuva noturna. Nas ruas íngremes, turistas fotografam cafés da moda enquanto senhoras de xale negro depositam crisântemos nos túmulos dos šehids, os mártires. Esta é a coreografia diária de uma cidade que aprendeu a dançar sobre suas feridas. No Museu Alija Izetbegović, um exemplar gasto de O Islã entre Oriente e Ocidente jaz aberto sob vidro. As margens rabiscadas revelam um homem que debatia Spengler e Rumi enquanto a Iugoslávia desmoronava. "Para ele, a Bósnia não deveria ser trincheira, mas ponte", sussurra o curador, apontando para a foto que congela um moment...
Esta página é um arquivo virtual que reúne minhas reflexões sobre minha mobilidade acadêmica na Bósnia e Herzegovina durante os anos de 2023 e 2024. Os textos aqui apresentados são impressões pessoais, não se propondo a representar a realidade de forma absoluta, mas um convite à reflexão sobre essa experiência.