DE SARAJEVO — A primeira vez que vi Sarajevo sob a neve, pensei: aqui, a história não congela; sangra. Cheguei como estudante de doutorado em Ciência Política, para uma mobilidade académica de seis meses, e logo percebi que a Bósnia é um quebra-cabeça onde cada peça é um paradoxo. Um país onde o futuro se negocia diariamente entre as sombras de uma guerra que teima em não acabar, e o frágil brilho de uma esperança que insiste em não morrer. Os meus dias na Universidade de Sarajevo foram uma imersão num laboratório vivo de conflitos não resolvidos. Os académicos bósnios falam de política com a urgência de quem sabe que as teorias não são abstrações, mas ferramentas para decifrar uma realidade fracturante. O Acordo de Dayton, que em 1995 pôs fim ao conflito, criou uma paz precária, congelando as divisões étnicas em estruturas de poder quase intocáveis 3. Hoje, a Bósnia funciona como um estado com três almas: uma sérvia, outra croata, outra bósnia—cada uma puxando para o seu lado, enquant...
Esta página é um arquivo virtual que reúne minhas reflexões sobre minha mobilidade acadêmica na Bósnia e Herzegovina durante os anos de 2023 e 2024. Os textos aqui apresentados são impressões pessoais, não se propondo a representar a realidade de forma absoluta, mas um convite à reflexão sobre essa experiência.