DE SARAJEVO — Ao amanhecer em Sarajevo, os sinos da catedral católica ecoam sobre os telhados da cidade. Poucas horas depois, o chamado do muezim da mesquita de Gazi Husrev-beg preenche os vales entre as montanhas. Ao final da tarde, o badalar dos sinos da igreja ortodoxa sérvia junta-se a esta sinfonia espiritual. Três chamados, três fé, um mesmo céu. Esta paisagem sonora quotidiana poderia ser um símbolo de tolerância perfeita. Mas na Bósnia, nada é tão simples quanto parece. A fé aqui não é apenas um caminho para a transcendência; é também um marcador de identidade étnica, uma fronteira invisível e, por vezes, uma arma política. A relação entre a Igreja Ortodoxa Sérvia, a Igreja Católica Croata e a comunidade islâmica da Bósnia é um microcosmo das complexidades do país. Durante a guerra de 1992-1995, as instituições religiosas foram instrumentalizadas para legitimar narrativas nacionalistas. Mesquitas, igrejas e mosteiros não foram apenas danificados ou destruídos como actos de guer...
Esta página é um arquivo virtual que reúne minhas reflexões sobre minha mobilidade acadêmica na Bósnia e Herzegovina durante os anos de 2023 e 2024. Os textos aqui apresentados são impressões pessoais, não se propondo a representar a realidade de forma absoluta, mas um convite à reflexão sobre essa experiência.