DE MOSTAR — Em um café no centro de Sarajevo, Adnan, de 24 anos, termina o seu café turco com a lentidão de quem adia o inevitável. Na mesa ao lado, um grupo de amigos ri alto, mas o som parece não alcançá-lo. "Estou a preparar a minha despedida", diz, com um sorriso amargo. "Daqui a dois meses, parto para Munique. Aqui, o futuro é uma promessa que nunca chega." A sua história não é única: é o retrato de uma geração que cresceu entre os escombros de uma guerra que não viveu, mas que carrega como uma herança pesada.
A Bósnia e Herzegovina é um país envelhecido pela emigração. Desde 2013, mais de 500.000 pessoas abandonaram o território, a maioria jovens em busca de oportunidades que o seu país lhes nega. O desemprego juvenil ronda os 30%, e a economia—a mais frágil da Europa—oferece poucas alternativas à precariedade ou ao exílio 9. Os que ficam, confrontam-se com um sistema educativo fragmentado por divisões étnicas, onde 94% das escolas operam com currículos monoétnicos que perpetuam narrativas divergentes do passado.
Mas a juventude bósnia não é apenas vítima; é também semente de mudança. Em Mostar, cidade cortada pela linha invisível que separa comunidades croatas e bósnias, jovens de ambos os lados assinaram em 2025 a Declaração da Juventude de Mostar, comprometendo-se a proteger o património comum, avançar na paz e fortalecer o seu papel na diplomacia. O documento, apoiado pela UNESCO e pelo Fundo para a Consolidação da Paz da ONU, é um acto de coragem num país onde a política ainda se joga com cartas étnicas.
Noutros cantos do país, a resistência assume formas criativas. Em Brčko, um filme intitulado Igra (O Jogo), produzido por uma organização da sociedade civil com apoio do PNUD, alerta para os perigos das armas ligeiras e já foi exibido em 200 escolas, alcançando mais de 13.000 estudantes. Em Gradačac, jovens reuniram-se para redigir a primeira Estratégia Municipal da Juventude, definindo prioridades em educação, emprego e cultura—um exercício de democracia participativa raro num contexto de desconfiança institucional.
A tecnologia emerge como uma fuga e uma ferramenta de libertação. Através do programa Escolas do Futuro, apoiado pelo governo norueguês, mais de 500 estudantes e 70 professores de 29 escolas exploraram a robótica, o design 3D e a programação. Para muitas raparigas, como Nađa Imamović da Escola Técnica de Zenica, estas habilidades são uma porta para desafiar estereótipos: "A TI não é apenas o futuro; é o presente onde as raparigas criam, inovam e lideram" .
Porém, os obstáculos estruturais persistem. Um relatório de 2025 do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) sintetiza dez tendências que moldam a vida dos jovens bósnios: desde a exclusão política e a corrupção até à desigualdade de género e às divisões étnicas. Muitos sentem-se "poderless" perante a política—um sentimento agravado por leis que negam aos não-bósnios, não-croatas ou não-sérvios o direito de concorrer à presidência.
A questão ambiental começa a mobilizar a geração mais nova. Em cidades como Zenica, onde uma fábrica de coque foi desactivada em 2024 após uma década de activismo, a melhoria da qualidade do ar tornou-se um símbolo de esperança. A OIM, em parceria com comunidades locais, tem apoiado iniciativas juvenis focadas na economia circular e na gestão de resíduos, reconhecendo que a degradação ambiental é um dos factores que alimentam o desejo de emigração.
O futuro da Bósnia depende da sua capacidade de ouvir estas vozes. Como escreveu um académico local, "os jovens não querem ser espectadores do seu próprio destino; querem ser autores". Ainda assim, o caminho é estreito: entre a pressão secessionista da Republika Srpska e a lentidão das reformas exigidas pela UE, o espaço para a acção cívica é limitado.
No entanto, há sinais de que a mudança é possível. Em Outubro de 2025, Sarajevo acolherá o evento Youth Bridges Europe, que juntará 60 jovens da Bósnia, Alemanha e França para debater democracia, reconciliação e memória . São gestos pequenos, mas simbolicamente poderosos: pontes construídas sobre as mesmas trincheiras que outrora dividiram a Europa.
A juventude bósnia não pede piedade; pede oportunidade. Como me disse uma activista em Tuzla: "Não precisamos de heróis; precisamos de espaços onde possamos falar, errar e construir." O seu país—e a Europa—deviam escutar.
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