DE SARAJEVO - Há lugares onde o peso da história se sente não só nos monumentos quebrados ou nos edifícios crivados de balas, mas no próprio ar que se respira. Cheguei à Bósnia como estudante em mobilidade académica, esperando estudar a reconstrução pós-guerra através de livros e gráficos. Mas a verdadeira lição veio das ruas, dos cafés, dos cinemas e dos olhares daqueles que carregam memórias que muitos de nós só conhecemos através de ecrãs distantes. A Bósnia é um país de contrastes profundos, onde a dor e a beleza coexistem com uma intensidade rara, e onde a cultura—o cinema, a literatura, a arte—não é um luxo, mas uma necessidade vital, uma forma de exorcizar fantasmas e reencontrar a humanidade perdida. Caminhar por Sarajevo é percorrer um palimpsesto de culturas e conflitos. A herança otomana mistura-se com o legado austro-húngaro, e em cada esquina há um lembrete do cerco dos anos 90, que durou quase quatro anos e definiu uma geração. Mas é precisamente nesta cidade ferida que o...
Esta página é um arquivo virtual que reúne minhas reflexões sobre minha mobilidade acadêmica na Bósnia e Herzegovina durante os anos de 2023 e 2024. Os textos aqui apresentados são impressões pessoais, não se propondo a representar a realidade de forma absoluta, mas um convite à reflexão sobre essa experiência.